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Tanto talento para enganar os outros
e tão pouco para me enganar a mim...
Triste e incompleto dom de representação.
Nunca me nomearia para um Óscar, nem ninguém no mundo o fará,
pois represento tão bem que não sabem que o faço.
Vem comigo amor.
Vamos povoar o vazio deste espaço
Com cheiro a amor e cansaço.
Como um menino em recado
repetindo na sua cabeça a lista do supermercado.
Assim caminho.
Com um metrónomo fantasma compassando-me
estes tristes e pesados passos
que sonham com asas de borboleta.
O teu sorriso é um paralelo atirado à montra de inutilidades em que se tornou o mundo.uma cuspidela de luz na cara do diabo,clareira aberta numa floresta de cinzento anonimatoo apelo à absoluta necessidade de renascer poetaa perfeita ilustração da palavra delicadezaa cidade onde me perco alegremente...minha Paris, minha Roma, minha Veneza.
Acendes o cigarro. Pedes um café. Róis as unhas.Dás a primeira passa: inchas a boca e expeles o fumo desfiando um pensamento qualquer.Levas o café à boca e voltas às unhas. O olhar fixa-se num qualquer vazio.A mão na boca. A perna inquieta.Dir-se-ia que esperas.Manténs o olhar fixo no nada até turvares a vista.Desapareces de dentro de ti por um brevíssimo momento.formas uma natureza morta composta pelo cinzeiro, um cigarro, umas mãos roídas até ao sabugo e o teu corpo vazio. (isto para quem observa de fora)A ansiedade na ponta dos teus dedos inchados e sangrentosA ansiedade na chaminé fumarenta em que transformas-te a tua bocaNo Parkinson que te ataca a perna direitaNo olhar ruminanteA ansiedade que não sabes de onde vem.Predador que se aproxima passo a passona savana dos teus pensamentos.
Ah meu ego!lobo esfomeado e cegonada te saceia!nada te saceia!!sempre em busca de mais uma palavrinha de afecto!Afinal que buscas em concreto?Olha! olha!, que bem rima o meninoque pródigo, que abençoado!Que raro e precioso especimen da raça humana!Quanto suou o Universo para te parir!Mas cá estás tu. Valeu a pena o esforço da mãe dolorida.Aí está o menino...gordinho e insatisfeito.
Dentro de mim, de ti e de nós
existe um grande salão de baile.
Eu imagino-o requintado e elegante
talvez dourado espelhado e brilhante
onde um mar de gente dança com infinita elegancia
numa troca de pares em fluxo contínuo.
cada uma dessas pessoas é um sentimento teu,
assim,
por vezes a angústia dança com a alegria
e esta troca de par com o desespero,
o desespero com a euforia
e a euforia com o desejo,
e o desejo com a frustração...
e a festa parece só acabar
quando completo o infinito bailado das possibilidades.
...quando a mulher bonita
põe o cabelo todo para um lado do pescoço
quando num dia inútil de calorme levanto da cama sem esforçoquando um dia de solrasga um rigoroso invernoquando a mulher bonitadeixa à vista um ombro e o esternoquando a visão dá lugar ao tactoquando a tua presença substitui o teu retratoquando o alcool ou a alegria me poem a dançare a vida se esquece de pensar...
Peço pouco...peço a ponta dos teus dedos,a ponta dos lábios dos teus dedos,o sopro da ponta dos lábios dos teus dedos,o sussurro do sopro da ponta dos lábios dos teus dedos, passeando-se livremente pelo meu corpo.
Deus é grande. Eu sou pequeno.Deus é gordo. Eu sou magro.Deus é velho (muito velho). Eu sou um jovem.Deus está em todo lado ao mesmo tempo. Eu quero estar em quase todo lado ao mesmo tempo.Deus construiu pelo menos um Universo. Eu construi uma casa na árvore e um pequeno mundo.Entre mim e Deus um abismo de diferença e os opostos só se atraem a uma certa distância (como dois ímanes).Deus pode ter-me criado, mas eu não o criei a Ele.(Se Deus fez tudo e tudo surge da sua vontade, então este poema é em co-autoria.)
Lentamente,
vou tecendo com o fio dos dias que passam
o casúlo onde adormecerei
para só acordar
quando as asas me rasgarem as costas.
Aí, não precisarei gritar ao mundo minha metamorfose em poeta.
...o casúlo vazio será pista suficiente...
(sínal de que vivi a eternidade num só dia)
Doem-me os olhos de azul
nesta embrulhada de céu e mar
no meio destes seios, no meio desta luz.
a cada movimento do meu olhar uma nova aguarela.
tudo é calmo...
tudo é...um sussurro de brancos e azuis aos cinco sentidos.
Deixei-me estar...
até desaparecer,
até que tudo em mim fosse ôco,
transformei todo meu corpo
num instrumento de sopro
e ofereci-o ao vento.
Oblíquas luzes de ouro e sombras de gigantes
atravessadas por este fluxo de gente que eu observo sentado
e o meu caderno branco é o campo de flores
onde me deito a namorar o mundo
...esperei anos sentado neste café...
até que por fim chegaste.
Agora só o teu amor pode pagar a dívida destes anos e anos de café amargo e paciente.
Percebi logo que eras tu porque trazias, agarrado ao peito, o livro de poemas que escrevi a pensar em ti.
Mordes-te o anzol meu amor.
Não sabes ainda, mas esse teu tesouro é a nossa secreta aliança.
Sentas-te, abres o livro, lês uma página
e paras para pensar em mim
Sem saberes que sou esse tonto sorridente
que está mesmo à tua frente.